L!Net entrevistou Amorim que fez análise dos três anos em que foi a presidente do Flamengo e os principais problemas enfrentados no triênio
Patricia Amorim recebeu a equipe do L!Net na sala da presidência no Flamengo no dia 13 de novembro. |
Patricia Amorim abriu a porta da sala dela, na Gávea, para a equipe do LANCE!Net. Logo no início da entrevista, Michel Levy, vice-presidente de finanças do Flamengo pediu licença e entrou no recinto requisitando uma assinatura. Para não perder o raciocínio do que estava falando, ela rubricou rapidamente, sem ler a papelada, mas sabendo do que se tratava. Levy é um dos personagens mais contestados deste triênio em que Patricia esteve à frente do Flamengo. Nesta entrevista, ela faz uma análise de tudo o que passou até ser derrotada na eleição de segunda-feira.
O LANCE!Net esclarece que a entrevista com Patricia Amorim foi realizada no dia 13 de novembro. Portanto, antes da eleição. Os temas abordados aqui são unicamente para tratar a gestão dela nestes três anos que ficou à frente do clube
Como era a sua vida antes de ser presidente do Flamengo?
Muito diferente. Eu dormia, comia e via os meus filhos. Uma vida mais normal. Tinha lazer, conseguia andar na rua. As pessoas antes me viam de uma maneira. Mas a militância é a mesma. Eu imaginava fechar o ciclo em 2016. A minha família poderia gostar que eu fosse mais calma, ficasse de braço cruzado, conformada, mas eu não consigo. Vou à luta. Eu ganho e perco lutando. Por isso que acho a avaliação covarde, já que fui julgada pela circunstância de um momento do futebol. E toda uma trajetória não foi observada. A minha vontade é de que as pessoas vissem com outro olhar.
É mais difícil ser vereadora ou presidente do Fla?
O Flamengo é mais cruel. Eu consigo fazer política aqui dentro tranquilamente, mas a opinião pública que se forma em cima de tudo o que acontece aqui é cruel. Como se as pessoas tivessem total conhecimento de causa.
Mudou como torcedora?
Tudo. Torcedor é romântico, apaixonado, fiel. Essa ingenuidade que eu sempre tive morreu um pouco. É duro e triste dizer isso. Nem todos os jogadores e os técnicos têm esse amor. Por isso, tive vontade de formar jogadores. Formar, aproveitar, consagrar, ter uma geração novamente comprometida. Eu entrei aqui e quase nenhum jogador tinha contrato. Os que ficaram, eram muito caros, porque tinham vencido o Brasileiro. Foi uma loucura. E perceber que todo mundo só queria dinheiro foi duro. Queria ter curtido mais aquele momento. Foi chocante.
Quais os vícios que adquiriu nestes três anos?
Eu não tomava café. Hoje, eu tomo muito. Continuei me alimentando bem, mas pouco. Emagreci muito. Fui tirar foto para essa campanha e pegamos fotos de três anos atrás. Envelheci demais! Antes, era saudável, cheinha. Tomo remédio para dormir, mas não é sempre. Não sou Michel Jackson. Não tomo refrigerante, só água. De vez em quando, um vinho para ver se eu dou uma relaxada. Nunca tinha tomado. São coisas que eu não fazia.
Como está o Ninho do Urubu?
Quero entregar tudo pronto. A parte do profissional está 80% pronta. Pagamos R$ 116 milhões de dívidas de gestões anteriores até o dia 30 de junho. Isso é muito. E não deixamos de construir, pagar, investir. Procuramos fazer tudo isso sem prejuízo da organização. E fizemos. Eu fico orgulhosa disso.
Michel Levy é o vice de finanças mais famoso do Brasil. Essa proximidade dele com o futebol desgastou o trabalho?
Não era para ser assim. Mas desgastou. Não repetiria esse modelo. O desgaste foi para mim. Ele teve o mérito de deixar os salários em dia a maior parte do tempo. Dizem que nós somos amadores. Claro, o estatuto exige isso. Presidente não ganha nada e a dedicação enorme.
O que mudou após a substituição do Teixeira pelo Marin?
Mudou um pouco. Ficou mais difícil a relação do dia a dia com os clubes cariocas, porque entrou a turma de São Paulo. O nosso representante, que era o Rubens Lopes (presidente da Federação do Rio), entendeu que era melhor apoiar o Del Nero. Fica mais difícil, porque eles não estão aqui todos os dias.
Sobre o Ronaldinho. O clube usou mal a imagem dele?
Este processo nós delegamos à Traffic, que nada trouxe ao clube. Era um grande negócio para o Flamengo. Não funcionou. Cada administração tem uma estratégia. O nosso foco não foi o marketing. Mas ele não foi um câncer. Poderíamos ter investido muito mais nele. E eu não posso dizer que eu não fui alertada sobre isso. O nosso foco passou a ser cumprir compromissos, formar jogadores. Nós falhamos, sim. Não investimos energia nisso. Achamos que era mais importante investir e gastamos mais de R$ 10 milhões nas obras.
O maior erro foi prometer a ele o que não poderia cumprir?
Vamos falar só dos erros? Tudo bem que o LANCE! só vê os erros, mas temos de ver o que acertamos. Não é um erro, apostamos. Às vezes, um jogador sai do Flamengo e faz gols demais. Ou vem desacreditado e acontece. Não tínhamos estrutura. Era um atraso monumental um clube como o Flamengo treinar na Gávea, num vestiário que o Ronaldo Fenômeno falava mal. Todos os clubes do Brasil que pretendem se manter no alto rendimento pensam em CT. O Flamengo estava com 30 anos de atraso.
Ronaldinho faltava aos eventos programados. Ele foi prejudicial para a imagem do clube?
Vou tentar falar sem emoção. Ser torcedor é fácil. O Flamengo foi para o mundo com Ronaldinho. Acho que ele não precisava sair da forma como foi. Se não queria ficar, fazíamos um acordo. Sei o quanto foi difícil para o clube pagar a ele os R$ 3,75 milhões da Traffic.
E o Morro da Viúva?
O Flamengo vai ser anistiado das dívidas de IPTU em troca da concessão daquele espaço por 25 anos. É uma outra boa herança que estou deixando: R$ 16 milhões de dívidas anistiados. Pagamos R$ 180 mil por mês de dívida ativa, que é só para rolar a dívida. Mais de R$ 2 milhões por ano a menos para pagar. Além disso, vamos receber mais R$ 14 milhões. O Flamengo, quando o hotel estiver pronto, vai receber, no mínimo, R$ 270 mil por mês de aluguel, ou 2,73% do faturamento.
Qual o maior legado e a maior decepção que você deixa?
O maior legado é patrimonial. Tinha uma hora em que o Flamengo precisaria parar e determinar qual caminho seguir. A maior decepção foi, principalmente, não internacionalizar a marca. Acertamos na questão patrimonial e da base. E erramos nas mudanças que nós fizemos do futebol. Teve o caso do Bruno. Não foi nada bom viver problemas policiais. Isso conturbou o clube de forma violenta.
E sobre Fernando Sihman, seu marido. Por que as pessoas falam que ele é o presidente informal?
Mês passado fiz 18 anos de casada. Conheço o Fernando há 20 anos. E quando eu o conheci, ele era Fluminense mesmo, não tenho vergonha de falar. O cara virou a casaca há 20 anos. Ele é pior do que eu como torcedor. Mas as pessoas precisam falar alguma coisa, criar um conceito. O que vão pegar em mim? Eu fui 12 anos vereadora. Lá, nós votamos de dez a 15 projetos por dia, e é na hora, sim ou não. Não posso ficar perguntando ao Fernando a opinião em cada um deles. E se erra, seu nome vai para o jornal, vai para boca de Matilde. Dizer isso é fazer muito pouco caso da minha personalidade. Eu devo ser muito forte para quererem destruir minha família, mas não vão conseguir.
Você recebeu apoio do Capitão Léo na eleição?
Uma coisa é você ter apoio, outra é governar. Ele prendeu minhas contas. Esses acordos são muito relativos. Nós fomos para a homologação das chapas e eu entreguei minhas contas há tempo, mas ele falou que só ia analisá-las após a eleição. O problema é que no Flamengo tem os atores políticos. E o Leonardo Ribeiro é um deles. E isso não tem nada a ver comigo, já que ele foi eleito presidente do Conselho Fiscal com o Marcio Braga. Só que eu aprendi a conviver com esses atores políticos no Flamengo. São personagens que articulam, que atuam. Política é muito difícil. É seu amigo hoje e inimigo amanhã.
Por que acha que não foi eleita vereadora do Rio?
Porque abdiquei de tudo quando assumi o Flamengo. Eu me dediquei 100% ao Flamengo. Eu não fiz praticamente campanha e as coisas misturaram. Se fosse ano passado, quando o Flamengo ficou bem até setembro, seria outra votação. Quem cresce no esporte, ganha e perde lutando. Já virei a página. Já vi presidente que renunciou, que não tentou reeleição, que não ganhou título nenhum. Estou longe de ser a pior presidente da História.
Por que ficou calada diante de tantas críticas recebidas?
Todo mundo me pergunta isso. Talvez, eu tenho errado. Ficava pensando no que o Flamengo ganharia se eu ficasse discutindo com Marcio Braga, por exemplo. Esse tititi que não leva a nada. Achava que as pessoas já tinham formado uma opinião. Todas as coisas que eu falava, saíam pequenininhas. Cansei de desmentir. Mas eu não consegui me comunicar. Ninguém quer ouvir. Li muitas barbaridades. Descobria pela imprensa que estava acontecendo alguma coisa. Virou maluquice.
Em algum momento sua candidatura à presidente chegou a ficar ameaçada?
Ficou, porque você cansa. É de graça. Eu tenho família e uma história bonita de vida. A democracia lhe dá o direito de votar a favor ou contra. Vai lá e vota, é seu direito. Mas destruir uma pessoa é covarde, é baixo. Eu honrei, fiz por onde. Não comprei voto, não fiz campanha milionária, não destruí ninguém. E isso tem de ser levado em consideração.
Fonte: lancenet.com
Saudações rubro-negras!!!
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